A bonita Ponte da Misarela situa-se sobre o cristalino rio Rabagão, em pleno Gerês, perto da Barragem da Venda Nova, mais propriamente no lugar da Misarela, freguesia de Ferral, no concelho de Montalegre.
Esta estrutura data provavelmente da época medieval, ou pelo menos de tradição arquitectónica medieval, enquadrada de forma espectacular na paisagem de densa vegetação.
A ponte está associada a uma já famosa lenda, onde o protagonista é o Diabo, daí que muitas vezes esta seja apelidada de “ponte do Diabo”. Reza a lenda que certo dia um criminoso ao fugir da justiça vê-se encurralado nos penhascos sobranceiros ao rio Rabagão.
Em desespero, apelou, à ajuda do diabo, que acedeu, pedindo em troca a sua alma. O diabo fez então aparecer uma Ponte ligando as margens do rio, passando então o criminoso, mas de seguida fazendo-a desaparecer, travando assim as autoridades.
O criminoso, arrependido, decide procurar um frade para ter a sua alma de volta.
Obedecendo ao plano do frade, o criminoso volta ao lugar a pedir o auxilio do Diabo para a travessia, fazendo reaparecer a ponte. O frade benze então com água benta a Ponte, o penitente recupera a alma perdida e o diabo perde a mais uma batalha do bem contra o mal.
A ponte ficou então com um carácter sagrado, e ainda hoje se diz que se algo vai mal numa gravidez, deve a mulher pernoitar debaixo da ponte, e a primeira pessoa que pela manhã passar pela ponte deverá ser o padrinho ou madrinha da criança, que deverá receber o nome de Gervásio ou Senhorinha.
De facto, regularmente vários Gervásios e Senhorinhas aqui se reúnem desde há tempos remotos, para celebrar esta lenda, que talvez lhes tenha salvo a vida!
Há quem diga que a Ponte é também apelidada de “Ponte do Diabo” ou “do inferno” por “lembrar apenas ao diabo” uma construção a esta altura e com estas configurações.
Neste vídeo são lembrados factos históricos contados pelo Sr. Roberto, habitante da aldeia de Sidrós que pertence à freguesia de Ferral, concelho de Montalegre:
Lenda da ponte da Misarela
Segundo a lenda local, esta ponte foi construída pelo próprio Diabo: Havia um mau homem em terras de Além Douro, a quem a justiça encarniçadamente perseguia por vários crimes e que sempre escapava, como conhecedor que era dos esconderijos proporcionados pela natureza.
Apertado, porém, muito de perto, embrenhou-se um dia no sertão e, transviado, achou-se de repente à borda de uma ribeira torrencial, em sítio alpestre e medonho, pelo alcantilado dos penedos e pelo fragor das águas que ali se despenhavam em furiosa catadupa.
Apelou o malvado para o Anjo-Mau e tanto foi invocá-lo que o Diabo lhe apareceu. ‘Faz-me transpor o abismo e dou-te a minha alma’, disse-lhe. O Diabo aceitou o pacto e lançou uma ponte sobre a torrente.
O réprobo passou e seguiu sem olhar para trás como lhe fora exigido, mas pouco depois sentiu grande estrépito, como de muitas pedras que se derrocavam, e ninguém mais ouviu falar da improvisada ponte.
Os anos volveram e, enfim, chegou a hora do passamento. Moribundo e arrependido, confessou ao sacerdote o seu pacto. Este foi ao sítio da ponte e tratou igual pacto com o Diabo.
A ponte reapareceu e o sacerdote passou, mas tirando rápido, um ramo de alecrim, molhou-o na caldeirinha que levava oculta, três vezes aspergiu, fazendo o sinal da cruz e pronunciando as palavras sacramentais dos exorcismos.
O mesmo foi fazê-lo que sumir-se o Demónio, deixando o ar cheio de um vapor acre e espesso, de pez e resina, de envolta com cheiro sufocante de enxofre, ficando de pé a ponte.