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Portugal ou Espanha: qual é a nação mais antiga?

Tem aparecido nas bocas de alguns defensores da unidade espanhola esta espantosa frase: «Espanha é a nação mais antiga da Europa!». Saiba a verdade.

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Portugal ou Espanha: qual é a nação mais antiga?

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Nos recentes debates sobre o referendo catalão, tem aparecido nas bocas de alguns defensores da unidade espanhola esta espantosa frase:

«Espanha é a nação mais antiga da Europa!»

Normalmente, a frase é dita como ataque ao independentismo catalão, que — na óptica espanhola — está a tentar destruir o país mais antigo da Europa.

 

A história simplificada da nossa tribo

Ora, na verdade, dos três países independentes da nossa península (Andorra, Espanha e Portugal), o mais recente é, precisamente, Espanha… Andorra é um principado desde o século XIII, antes da união dinástica entre Castela e Aragão. E Portugal…

Bem, todos sabemos que Portugal já existia por essa altura. Espanha, por mais voltas que se dê, não é a nação mais antiga da Europa. Nem sequer consegue ser a nação mais antiga da península… Bolas, nem a Andorra consegue ganhar.

Se assim é, donde vem aquela estranha frase? E como é que o próprio Mariano Rajoy consegue dizer isto sem que os seus ouvintes reclamem pelo erro crasso? Na verdade, poucos espanhóis parecem importar-se com tal dislate. Mas porquê?

Bem, primeiro, quando alguém diz qualquer coisa a favor da nossa tribo em particular (clube, partido, nação), o sentido crítico fica um pouco embotado. É muito humano.

Depois, enfim, a História que temos na cabeça é um pouco mais maleável do que pensamos e depende do nosso sentido de identidade. O passado — ou aquilo que lembramos e esquecemos desse mesmo passado — é um campo de batalha. E a forma espanhola de olhar para o passado encontra por lá uma nação anterior ao Estado.

 

A Catalunha já foi independente?

Quando falo em campo de batalha, não falo da história feita pelos historiadores (embora também aí haja muita batalha), mas das narrativas simplificadas com que contamos o percurso das nossas nações.

Nós, por cá, gostamos de contar esta narrativa muito simplificada: tornámo-nos independentes em 1143 e, a partir daí, andámos a defendermo-nos das invasões espanholas e a descobrir o mundo — e lá conseguimos chegar até aos dias de hoje com a nossa independência intacta.

Pois, por estes dias, é interessante olhar para as histórias simplificadas que estão na cabeça de espanhóis e catalães. Já vimos que, para muitos espanhóis, a sua nação é mais antiga do que todas as outras — apesar de não ser. E os catalães, como contam o seu passado?

Contam desta maneira: a Catalunha foi o centro duma antiga coroa, com sede em Barcelona, que chegou a ter um império no Mediterrâneo e foi independente até 1714 — quando o pérfido rei de Castela invadiu aquele que era também um dos seus reinos e impôs as leis de Castela.

Reparem que esta data (1714) é mais recente que a data da união de Inglaterra à Escócia. Para o sentimento nacional catalão, a perda da independência foi ontem! O que estão a fazer agora é a recuperar o que foi deles de direito, como antiga nação europeia.

Já os espanhóis mais centralistas contam outra história: a Catalunha é uma mera região duma antiga coroa medieval (a Coroa de Aragão) que, sem dramas e voluntariamente, se juntou a Castela no final do século XV, fazendo renascer a nação espanhola que, lá no fundo, tem origem na antiga Hispânia romana e no reino dos Visigodos.

Virá daí — digo eu — essa estranha afirmação, desmentida por tantos factos, de que Espanha é a mais antiga nação da Europa. Os dramas, na cabeça dos espanhóis, foram criados pelos separatistas — que terão aparecido, por magia, nas últimas décadas.

 

Confronto de Histórias

Portanto, na cabeça dum nacionalista catalão, a Catalunha é uma nação antiga, com uma História, uma língua e um território — e só em 1714 perdeu a independência.

Na cabeça dum nacionalista espanhol, a Catalunha nunca foi independente e é uma região duma nação antiquíssima, reconstituída no século XV e que, no fundo, já vinha da antiga nação visigoda.

Todas estas formas de contar a História são maneiras de olhar para os mesmos acontecimentos. Mas, atenção: não caio na tentação de achar que todas estas leituras são igualmente válidas.

Há narrativas históricas mais simplistas do que outras. Dizer que Espanha é a nação mais antiga da Europa parece-me ser uma forma especialmente errada de olhar para a História.

Depois, se virmos bem, todas estas histórias são um pouco anacrónicas. As guerras e as dinastias eram assuntos de gente nobre e os povos tinham pouca noção de pertencerem a esta ou àquela nação ou a este ou àquele Estado — ao contrário do que acontece hoje em dia, em que todos nós sabemos de que país somos. Antes do século XIX, cada pessoa era da sua terra, tinha a sua maneira de falar própria da região, orava a um deus — e nessas roupagens encontrava a sua tribo…

No século XIX, os vários nacionalismos reinventaram a história, cada um à sua maneira. Essas histórias reinventadas foram transmitidas às populações através da escolarização, da literatura e por todos os mecanismos que hoje são naturais.

A tribo de cada um começou a ser a tal nação, que ora é defendida pelo Estado, ora por elites sempre à espreita de criar o seu próprio Estado. Este processo pode parecer especialmente simples num país como Portugal — mas é complicadíssimo noutras paragens — basta olhar para as notícias que vêm de Barcelona.

Não há volta a dar: vivemos com essas histórias nacionais na cabeça. São mitos que fazem parte do que somos. O grande problema é quando essas histórias entram em confronto, como acontece aqui mesmo ao lado.

A solução? Não a tenho. Mas talvez o pior que possamos fazer seja acreditar piamente nestas histórias e não hesitar um pouco antes de atirar as nossas declarações superlativas à cara dos outros.

Por isso, faça o que fizer com a vontade catalã de votar, talvez fosse aconselhável a Mariano Rajoy não andar a espalhar por aí uma Espanha que, de tão antiga, mais parece um fantasma.

Autor: Marco Neves

Fonte: certaspalavras.net

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9 COMMENTS

  1. e dizem metade do mundo que Portugal era uma Colonia Espanhola nos anos 70 fui a França de Automovel quando vinha de volta para Portugal perdi me nas portas do sol em espanha fartei me de perguntar aos irmanos espanhois para onde ficava portugal porque estava perdido poius nimguem em espanha conheçia Portugal a estupidês espanhola e os espanhois atrazados nimguem conhecia Portual,Francamente

  2. Espanha continua a ser um país só em papel, porque na realidade todas as regiões são autónomas, um pouco a imagem dos estados unidos, mas de outra forma, portanto para mim, Espanha não “existe”.

    • Vc pode dizer que a Espanha não é uma nação, mas um conjunto de. Não pode é negar que é um Estado.

  3. A peninsula Ibérica tem seis paises, Portugal, Espanha, Andorra, Catalunha, Galiza e País Basco, todos eles com maneiras próprias de pensar.

  4. É complicado. Formalmente Portugal é mais antigo. Porém as nações que deram origem a Espanha, ainda existem e Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragão são mais antigos que Portugal, o qual não se pode remeter a sua fundação para nada a não ser o Condado Portucalense… fundado por galegos.

  5. Infelizmente estivemos debaixo da alçada “espanhola” à volta de 60 anos… não há como esconder isso!

  6. É verdade Portugal como país tornou-se nação mais cedo que a Espanha, mas os portugueses na verdade são espanhóis, galegos, que se separaram da Hispania, construíram uma nação com sua identidade, mas são vizinhos, com usos e costumes que muitas vezes não se consegue se separar. A maior diferença entre os dois países é, um sabe a importância do outro( Espanha), o outro( Portugal)quer ignorar sua origem, atacando seu vizinho, para descontar eventos históricos, guerras e tratados. Os portugueses nem sabem, mas apequenam a península quando o fazem, são povos grandes e unos. Fizeram tanto isso que trouxeram essa ” tinha para o Brasil”, Português e Brasileiro não é Latino, dizem, um é italiano- Brasil( mais latino ainda) e o outro inglês (Português).
    A verdade é que são anos de casamentos, uniões, tratados, comércio e junção cultural. Um aceita e segue, o outro quer colocar- se como superior, mesmo sabendo que o que existe é uma nação só, com seus traços culturais.

  7. Se considerasse que Espanha é Espanha desde o século XV a quando da unificação dos reinos de Castela e Aragão então Portugal só é Portugal quando o reino do Algarve deixou de existir em 1910.
    Quer o território que é Portugal como o de Espanha foi habitado por muitos povos que formaram várias nações ao longo dos tempos. Colocar uma data específica para o início de uma nação tão antiga como Portugal e Espanha ou outros países da Europa é impossível. Mesmo os países criados após a grande guerra por tratado não representam verdadeiras nações.
    Assim é tão certo Portugal acreditar que foi fundado em 1143 como ainda no tempo de Bracara Augusta ou mesmo antes disso, como é plausível Espanha considerar uma nação desde 218 a.c. com a criação da província romana da Hispania.

  8. Nao entendo nada; mas a regiao de barcelona deve ser separada da Espanha. E Portugal é Portugal com sua lingua e Espanha deve ser Espanha com sua lingua.

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