Apresentamos, de forma resumida, parte da herança judaica sefardita existente em Portugal, composta pelo património histórico e cultural de uma comunidade que deixou marcas profundas e decisivas para o desenvolvimento do país ao longo dos tempos.
Na fundação de Portugal as comunidades sefarditas, ou judeus da Península Ibérica, ajudaram ao povoamento do território conquistado aos mouros. Por isso beneficiaram da proteção real até 1496, data do Édito de Expulsão dos Judeus.
Dessas comunidades de homens de negócio, de ciência e de letras, filósofos, médicos, astrónomos, saíram grandes contributos para a náutica e os Descobrimentos portugueses, assim como para a medicina ou a economia.
Património Judio
Convidamos a conhecer os vestígios dos antigos bairros onde moraram. Na toponímia das ruas ou na arquitetura, é visível por vezes a tipologia da habitação hebraica, com duas portas no piso térreo: uma larga para o comércio e uma estreita que levava ao piso superior, de uso doméstico.
Também na ombreira das portas perduram inscrições associadas ao culto hebraico. Muitas delas atualmente em forma de cruz, sinalizam a cristianização dum antigo espaço de judeus.
Importa referir que, na sua diáspora, os judeus também divulgaram a língua e cultura portuguesas e que durante a II Guerra Mundial, Portugal recebeu muitos milhares de judeus em fuga das perseguições nazis.
A comunidade judaica tem existência legal em Portugal desde 1912. Organizados geograficamente de norte para sul, os locais e documentos referidos neste artigo pretendem ser também um apelo à viagem e contribuir para enriquecer o visitante qualquer que seja a intenção ou objetivo da visita.
Porto – A Herança Judaica
Cidade de cunho mercantil, não é difícil situar no Porto as comunidades de judeus que desde a Idade Média ajudaram ao desenvolvimento do burgo e da região.
Na Rua do Monte dos Judeus, em Miragaia, existiu a Judiaria de Monchique já que ali foi encontrada uma epígrafe, em língua hebraica, da sinagoga construída em 1380-86 (hoje no Museu Arqueológico do Carmo, em Lisboa).
Em volta da Igreja de Nossa Sra. da Vitória, entre o Mosteiro de S. Bento e a Rua de Belmonte, ficava a Judiaria Nova do Olival. Uma das portas ficava à entrada da Rua de S. Bento da Vitória e a outra no fim das Escadas da Vitória, ou “Escadas da Esnoga” (corruptela de sinagoga), tal como mostra a placa toponímica.
Uma inscrição em latim na Igreja de S. Bento assinala que aqui existiu uma Judiaria. Finalmente, em 1938 foi inaugurada a Sinagoga “Mekor Haim” (Fonte da Vida) ou Kadoorie, na Rua Guerra Junqueiro, 340.
Lamego – A Herança Judaica
A partir do séc. XV Lamego teria duas judiarias: a judiaria velha junto à Porta do Sol e a nova junto à Igreja de Santa Maria de Almacave. Ocupavam entre outras as Ruas Nova, da Seara, da Cruz e da Fonte Velha. Na Rua Nova, a inscrição no lado direito dum portal em ogiva indicia que aqui poderá ter funcionado a sinagoga, apesar da atual simbologia cristã.
Freixo de Espada à Cinta – A Herança Judaica
Abrigou na Idade Média uma importante comunidade de cristãos-novos, tal como inúmeras localidades ao longo da fronteira com Espanha cuja população aumentou imenso a partir de 1492, quando os judeus foram expulsos daquele país.
Várias casas do centro histórico com inscrições junto ao portal pertenceriam a judeus que partiram à descoberta do mundo nas caravelas dos Descobrimentos portugueses.
Vila Nova de Foz Côa – A Herança Judaica
Nesta cidade existia uma judiaria no bairro do Castelo e aqui fica a capela de Santa Quitéria, onde pode ter-se situado a sinagoga. Também em Freixo de Numão, uma vila das imediações, a chamada “Casa Judaica” ostenta as marcas atribuídas à presença de judeus.
Porém, os processos movidos pela Inquisição aos judeus entre 1541 e 1763 são o maior testemunho da sua presença nestas localidades.
Por ocasião das Invasões Francesas ocorreram vários ataques aos cristãos-novos de Vila Nova de Foz Coa, sob a acusação de que estariam aliados aos invasores já que, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em França, vários judeus transmontanos para ali emigrados tinham obtido para o seu povo igualdade de direitos.
Penedono – A Herança Judaica
A existência de judeus em Penedono, pelo menos desde 1569, está provada por processos inquisitoriais e marcas cruciformes nos umbrais das portas.
Fornos de Algodres – A Herança Judaica
Também em Fornos de Algodres se podem encontrar em grande número as características marcas cruciformes, principalmente nas Ruas da Torre e de S. Salvador, onde se situa também a capela de S. Salvador, de planta quadrada, possível localização da antiga sinagoga.
Trancoso – A Herança Judaica
Conserva ainda as muralhas e as portas do castelo medieval. Aqui se estabeleceram muitos judeus desde o séc. XIV, mas sobretudo nos séc. XV e XVI, vindos de Aragão e Castela.
A judiaria situava se na Corredoura, Ruas da Alegria, Cavaleiros e Estrela, onde se encontram perto de 300 vestígios cruciformes nas fachadas e portas. Numa casa situada na Praça de D. Dinis, nº 5, foi encontrado um pergaminho com a oração do “Shemá Israel”.
A Casa do Gato Preto, na Rua Frei João de Lucena, ostenta na fachada símbolos interpretados como o Leão de Judá e as Portas de Jerusalém. O Poço do Mestre seria a possível nascente que alimentava o “mikvé”, o banho sagrado de purificação.
Bem perto, o Centro de Interpretação Judaica Isaac Cardoso, médico judeu aqui nascido no séc. XVII, é um moderno espaço de conhecimento sobre a presença hebraica em Trancoso e na região. Inclui a Sinagoga Beit Mayim Hayim que reproduz uma Sinagoga Sefardita.
Viseu – A Herança Judaica
Os primeiros testemunhos da presença judaica em Viseu datam do séc XIII. Nas imediações da Sé houve uma Judiaria Velha e outra Nova, que ocuparam as atuais ruas da Senhora da Boa Morte, Augusto Hilário, Nossa Senhora da Piedade (Judiaria Nova) e outras contíguas.
D. Afonso V, em 1468, obrigou os judeus a fechar todas as portas e janelas que comunicassem com casas de cristãos, o que revela as querelas, comuns em todo o território, entre comunidades de distintos credos.
Guarda – A Herança Judaica
Na Guarda ainda hoje existe o velho bairro judeu junto à antiga muralha. A judiaria, já conhecida no séc. XII, situava-se perto da Porta d’El-Rei, com casas destinadas ao comércio no rés-do-chão e à habitação no primeiro andar.
A judiaria nova localizava-se junto à Igreja de S. Vicente, onde os cristãos se queixavam da proximidade dos judeus. Em muitas ruas são visíveis cruzes na ombreira das portas.
Também na Rua de Dom Sancho, nº 15 pode ver-se uma marca na “Casa do Barbadão”, ilustre judeu do séc. XIV que, segundo a lenda, não mais cortou a barba por vergonha dos amores ilícitos da sua filha, Inês Peres, com D. João I.
Trata-se da mãe de D. Afonso, primeiro Duque de Bragança, que viria a casar com a filha do Condestável Nuno Álvares Pereira, dos quais descendeu a casa de Bragança.
Belmonte – A Herança Judaica
Foi o principal centro da comunidade de judeus marranos do país. Preservando secretamente o culto religioso, a sua fé e costumes subsistiram desde o Édito de Expulsão dos Judeus em 1496 até aos nossos dias.
Reconhecida oficialmente em 1989, a comunidade judaica de Belmonte inaugurou em 1996 a sinagoga “Beit Eliahu”(Casa de Elias) na Rua Fonte da Rosa e acolheu um rabino. Em 2001 foi construído o cemitério judaico.
Em 2005 abriu em Belmonte o Museu Judaico sobre a história sefardita em Portugal e muito particularmente sobre a resistência oferecida pelos judeus marranos de Belmonte.
Uma pedra encontrada em Belmonte Portón de la sinagoga “Bet Eliahu”, Belmonte Portão da Sinagoga “Bet Eliahu”, Belmonte testemunha que já em 1297 aqui havia uma sinagoga. A judiaria compreendia a atual Rua Fonte da Rosa e Rua Direita, fora das muralhas, onde se encontram hoje cruzes gravadas na porta das habitações.
Sabugal – A Herança Judaica
Teve uma das mais antigas judiarias nacionais. Nas portas perto do castelo são inúmeras as marcas de cruzes e outras. Em duas habitações foram encontrados dois altares de culto judaico “Hejal” (Aron ha Kodesh) ou “armário da lei”, que se destinavam a guardar a “Torah”, o livro da lei ou livro sagrado dos judeus.
Pela sua localização, admite-se que tivessem o propósito de permitir o culto hebraico após a sua proibição. Também em Vila de Touro e Vilar Maior, duas aldeias próximas, se podem observar o mesmo tipo de inscrições na fachada das casas.
Aqui terá também existido uma sinagoga, já que se preserva o “Hejal” e a entrada diferenciada para homens e mulheres.
Penamacor – A Herança Judaica
Subsistem marcas gravadas na pedra nas Ruas de S. Pedro, de D. Sancho I ou de Carros, onde se supõe ter existido a judiaria. Também a caraterística arquitetónica das casas – habitação e área de negócio em diferentes pisos – testemunha a presença judaica no centro histórico da vila.
Ribeiro Sanches (1699-1783), conhecido médico e intelectual judeu, nasceu em Penamacor. Verdadeiro Homem das Luzes, alcançou grande prestígio na Holanda e na Rússia, onde foi médico da corte.
Coimbra – A Herança Judaica
Em Coimbra existiram três judiarias: de Santiago, de Santa Justa e da Pedreira. Na Rua Corpo de Deus situava-se a Judiaria de Santiago ou Judiaria Velha, a mais antiga, onde ficava a Sinagoga.
A Judiaria de Santa Justa ou Judiaria Nova ocupava as atuais Ruas Direita e Rua Nova. Já na Rua Olímpio Nicolau Fernandes fica a Fonte Nova ou dos Judeus, assim designada justamente pela zona onde foi construída em 1725.
Na famosa Biblioteca Joanina encontram-se importantes estudos dos grandes matemáticos Pedro Nunes (inventor do nónio) e André de Avelar, ambos cristãos-novos. Lecionaram na Universidade de Coimbra, nos séc. XVI e XVII respetivamente.
Aqui se guarda também uma antiga Bíblia hebraica, um manuscrito em pergaminho da segunda metade do século XV conhecido como a Bíblia de Abravanel.
No Pátio da Inquisição, onde agora está instalado o Centro de Artes Visuais, funcionou o Tribunal da Inquisição. Os autos de fé tinham lugar nas atuais Praça 8 de Maio e do Comércio.
Leiria – A Herança Judaica
A presença de judeus está documentada desde o séc. XIII e sabe-se que no séc. XV a judiaria se estendia da atual Rua Afonso Henriques até à Praça de S. Martinho e Largo da Sé.
A Rua da Judiaria era a atual Rua da Misericórdia. Foi em Leiria que Samuel d’Ortas imprimiu, em 1496, o Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto, importante tratado de astronomia guardado na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Tomar – A Herança Judaica
O Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto situa-se no nº 73 da Rua Dr. Joaquim Jacinto, a antiga Rua da judiaria. Na sua coleção destaca-se uma estela funerária de Faro, alusiva ao falecimento em 1315 de Rab Ioseph, um judeu de Tomar, e a lápide que assinala a fundação da Grande Sinagoga de Lisboa, em 1307.
O Museu ocupa a Sinagoga mandada construir entre 1430 e 1460 pelo Infante D. Henrique, a única do séc. XV que resta em Portugal. Após o Édito de Expulsão dos Judeus, em 1496, o templo teve outras funções até que, em 1923, o judeu polaco, Samuel Schwarz, o recuperou e doou ao Estado português para aí instalar o museu.
Posteriores escavações arqueológicas puseram a descoberto a sala do “mikvé”, o banho sagrado de purificação.
Castelo Branco – A Herança Judaica
Recentemente foram descobertos os limites e localização da porta da judiaria medieval de Castelo Branco. Adjacente ao castelo, ocupava as Ruas d’Ega, dos Oleiros, do Sobreiro e outras, acompanhando a muralha junto ao Jardim do Paço.
Nestas ruas, com nomes das profissões dos seus habitantes, ainda hoje é visível a típica arquitetura judaica e inscrições nas ombreiras das portas.
Nesta cidade, em 1511, nasceu o judeu João Rodrigues de Castelo Branco, conhecido como Amato Lusitano, que veio a ser um dos mais notáveis médicos do séc. XVI. Perseguido pela Inquisição, teve que fugir, vindo a morrer em Salónica em 1568.
Castelo de Vide – A Herança Judaica
As ruas estreitas em volta do castelo eram ocupadas por uma grande comunidade judaica. Bem preservada, esta zona é hoje uma das mais visitadas da vila. A Judiaria ocupava a encosta nascente da colina do castelo e descia da Porta da Vila até à Fonte da Vila.
Alargava-se ao Largo e Rua do Mercado, à Rua Nova e outras que a toponímia ainda testemunha. O edifício que terá sido a sinagoga, hoje um museu, encontra-se na esquina da Rua da Judiaria com a Rua da Fonte. Apresenta a sala de culto, onde fica o Tabernáculo, o compartimento destinado às mulheres e, no piso inferior, três silos escavados no granito para guardar cereais.
Muitos dos edifícios tipicamente judaicos têm portas em ogiva com a ranhura da “MEZUZAH” (pergaminho com palavras da Bíblia que, na fé judaica, se colocava do lado direito da ombreira da porta). É o caso da porta do andar superior, onde ficava a escola havendo também portas com símbolos ligados às profissões.
Garcia da Orta, de ascendência judaica, nasceu em Castelo de Vide, em 1501. Escreveu “Colóquio dos Simples e Drogas da Índia”, importante tratado de medicina e botânica.
Torres Vedras – A Herança Judaica
Acolheu no séc. XV a mais importante comunidade judaica que se fixou a noroeste da capital. A judiaria ocupava no reinado de D. Dinis a atual Rua dos Celeiros de Santa Maria (antiga Rua da Judiaria), no burgo medieval fora do castelo.
Os dois rabis-mor de D. Dinis, D. Judah Guedelha e seu filho D. Guedelha ben Judah, eram naturais da cidade. A comunidade teve um grande incremento em 1469. Dedicava-se ao comércio e incluía um cirurgião e 21 artesãos ou mesteirais.
Documentos locais, com pedido da dízima aos judeus devido aos avultados lucros dos seus negócios, mostram que também esta era uma comunidade bastante próspera.
Alenquer – A Herança Judaica
A toponímia local prova a existência de judeus em Alenquer durante a Idade Média. Lá estão ainda a Rua, Travessa e Beco da Judiaria. Também os judeus de Alenquer pagavam altos impostos, graças ao seu poder económico.
As suas profissões eram comuns às outras comunidades judaicas: artesãos, alfaiates, ferreiros, sapateiros, etc. No séc. XV havia um cemitério judaico perto da Igreja de Santa Maria da Várzea, no chamado Adro dos Judeus, hoje ocupado pela Real Fábrica de Papel.
Damião de Góis, grande humanista português natural de Alenquer, embora não fosse judeu foi perseguido pelo Santo Ofício. Aqui morreu em 1574 e o seu túmulo.
Lisboa – A Herança Judaica
Em 1904 foi inaugurada em Lisboa “a Sinagoga Shaaré Tikvá” (Portas da Esperança). Traçada por Ventura Terra, fica na Rua Alexandre Herculano, nº 59. Na Rua do Monte Olivete, nº 16, eram acolhidos desde 1942 os refugiados judeus da II Guerra Mundial que demandavam Lisboa no seu exílio.
Até 1496, sabe-se que existiam em Lisboa três judiarias na zona que viria a ser a Baixa Pombalina: a Judiaria Grande ou Velha, pelas Ruas de S. Nicolau e Madalena, com sinagoga na Rua dos Fanqueiros; a Judiaria Pequena, criada no reino de D. Dinis, possivelmente na Rua do Comércio; e a Judiaria de Alfama, no antigo bairro árabe que ainda hoje subsiste. Aqui se mantém a Rua da Judiaria.
No Beco das Barrelas, nº 8 existiu uma sinagoga, construída em 1373-74. Sabe-se que na Judiaria Grande foi construída uma Sinagoga em 1307, graças a uma lápide hoje guardada na Sinagoga-Museu de Tomar. No Bairro Alto existiu também um bairro judeu, que D. Dinis terá cedido ao seu Grande Rabino, Judas Navarro.
No Rossio funcionava o Tribunal da Inquisição no Palácio dos Estaus, local agora ocupado pelo Teatro Dona Maria II. Ao lado, no Largo de S. Domingos encontra-se hoje uma placa alusiva ao Massacre dos Judeus de Lisboa, ocorrido em 1506, em que foram queimados cerca de 2.000 judeus.
Em alguns museus de Lisboa encontram-se testemunhos da presença judaica em Portugal: no Museu Arqueológico do Largo do Carmo, destaca-se a Pedra de Monchique, epígrafe em língua hebraica relativa à Judiaria de Monchique, do Porto; o Museu da Cidade conserva gravuras sobre a Inquisição e autos de fé, que foram praticados até ao séc. XVIII; no Museu Nacional de Arte Antiga assinala-se o retrato dum judeu do séc. XVI, da autoria do pintor Grão Vasco.
Além de rabino, Abraão Zacuto foi um dos mais ilustres astrónomos e matemáticos judeus da sua época. Expulso de Espanha, serviu na corte de D. João II, tal como o médico José Vizinho, seu discípulo.
Na Biblioteca Nacional encontra-se um exemplar do Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto (impresso em Leiria em 1496 e traduzido do hebraico para latim por José Vizinho ou Vecinho).
Trata-se duma obra de astronomia de enorme importância para as viagens marítimas portuguesas, nomeadamente para a descoberta da Índia e do Brasil. Perto de Lisboa, na romântica vila de Sintra também existiu uma judiaria junto ao Palácio da Vila. O Beco da Judiaria lá está para o atestar.
Elvas – A Herança Judaica
Pelo menos desde 1386, esta cidade fronteiriça teve duas judiarias: a Velha, exterior à Alcáçova, ocupando a Rua Nova (ou de Alcamim), e Ruas da Porta de Olivença e da Porta de Évora; e a Judiaria Nova, na zona da Praça Nova (atual Praça da República), Rua da Feira e Rua Carreira dos Cavalos.
Mas já de entre 1320 e 1340 nos chegaram as cantigas de amor dum judeu de Elvas, Vidal, hoje guardadas na Biblioteca Nacional. Em 1438 o Rabi Mestre Abraão é nomeado pelo rei responsável dos judeus da cidade. Também na vizinha Vila Boim existiu uma judiaria.
Évora – A Herança Judaica
Foi até ao fim do séc. XV sede duma das maiores comunidades judaicas portuguesas. A judiaria ficava dentro das muralhas, entre as Portas do Raimundo e de Alconchel. Continha duas sinagogas, “mikvé” (local de banhos rituais), hospital e uma gafaria.
Nas Ruas do Raimundo, dos Mercadores e da Moeda identificam-se ainda algumas ombreiras das portas de habitações judaicas. Na última (antiga Rua do Tinhoso) ficaria uma sinagoga. No Museu de Évora guarda-se o cofre e Mesa do Tribunal da Inquisição, de meados do século XVI, assim como lápides em hebraico.
Frente ao Museu podem ver-se as armas do Santo Ofício sobre as portas do antigo Tribunal e Palácio do Inquisidor. Na Praça do Giraldo tinham lugar os autos de fé.
Dos quatro primeiros livros impressos em Portugal, o Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto (impresso em Leiria em 1496) tem outro exemplar na Biblioteca de Évora, tal como o Guia Náutico de Évora. O poeta Diogo Pires (1517-1599) pertencia á comunidade judaica de Évora.
Faro – A Herança Judaica
Em Faro foi dado à estampa o Pentateuco, a primeira obra impressa em Portugal, em hebraico, no ano de 1487, pelo judeu Samuel Gacon. A comunidade de judeus de Gibraltar e Marrocos que se estabeleceu em Faro no séc. XIX, na Rua de Santo António, mandou construir duas sinagogas em 1830, e mais tarde um cemitério.
Restaurado em 1993, o Cemitério integra o atual Centro Histórico Judaico de Faro e fica entre as Ruas Leão Penedo e a Estrada da Penha. A entrada faz-se pelo Museu Isaac Bitton, cuja tecnologia audiovisual apresenta um Casamento e um “Bar Mitzvah” (confirmação dum rapaz com idade de 13 anos), entre outros objetos valiosos.
Na Rua Filipe Alistão, o palacete onde está hoje o Colégio Algarve foi a residência de Abraão Amran, um dos judeus da próspera comunidade novecentista de Faro.
Sou um judeu retornado por um Beit Dim ortodoxo casher, por ser descendente de judeus sefaradim. Recebi o nome de Eliahu ben Avraham. Pretendo conhecer as sinagogas de Portugal.Shalom!