Em Lisboa, e imediatamente à frente do Largo do Limoeiro, junto à antiga Cadeia encontramos o Pátio do Carrasco, estranhamente funesto e degradado. Por aqui terá vivido temporariamente Luís António Alves dos Santos (1806–1873), «o Negro», marcado pela casualidade histórica de ter sido o último carrasco de Portugal.
Dizem que haveria ali um túnel subterrâneo por onde Luís caminhava até à prisão do Limoeiro, mesmo ao lado. No local onde estaria essa passagem, ainda hoje se ouvem gritos.
Os moradores pensam que são do próprio Luís, atormentado pelas mortes que causou e que fizeram dele «o último carrasco de Portugal», com um salário de 4.100 réis e direito a referência num livro de Camilo Castelo Branco.
Mas é aqui que a história se torna difícil de entender: é possível que Luís Alves nunca tenha executado ninguém. Da única vez que foi encarregue de o fazer, em Tavira, deu ao seu imediato o dinheiro que tinha consigo, para que o substituísse. Como na época os carrascos usavam capuz, era possível trocarem de lugar sem que ninguém se apercebesse.
Nascido na aldeia de Capeludos de Aguiar, concelho de Vila Pouca de Aguiar, Luís Negro protagoniza uma vida atribulada, cheia de equívocos e ódios que a própria História tarda em explicar. Arriscar na construção de alguns fragmentos sócio-biográficos é a tarefa a que nos propusemos.
Nado numa geração necessariamente ligada à terra, onde nunca se conhecera um delinquente, o jovem Luís nunca imaginaria um destino tão agonizante para a sua alma. Paradoxalmente, foi bem cedo que entrou por caminhos sinuosos, feitos de armadilhas e falácias, que o conduziram inevitavelmente à negritude. Adjectivo que, aliás, fará dele uma referência para a história de Portugal.
Aos dez anos inaugura o rol de peripécias numa fuga para Lisboa, vende laranjas para sobreviver, mas ao fim de alguns meses volta com saudades dos seus. Neste curto espaço os pais vão da consternação à alegria do regresso do filho pródigo.
Curiosamente, LN quando tinha que enforcar, pagava a quem substituísse! “As minha mãos estão puras, tenho-as immaculadas da forca…” Cobarde, por não cumprir os seus deveres de funcionário do Magistério Público? Ou humanista por não se degradar ao ponto de executar padecentes já que ele era manifestamente contra a pena capital?
Será que Luís grita atormentado pelas mortes que causou na juventude? O carrasco lutou ao lado dos absolutistas, no século XIX, e confessou ter matado dois homens em legítima defesa. Morreu aos 67 anos, com um ataque de asma, já depois da abolição da pena de morte em Portugal.