Muitos dos que, nos anos 70, fizeram desta canção coro de protesto e revolta contra a Ditadura não saberiam, nessa altura, que estavam a entoar um poema de Sophia de Mello Breyner.
Francisco Fanhais – aliás Padre Fanhais, como era então reconhecido – chegava com a sua viola e começava a cantar. As vozes presentes haviam de se lhe juntar. E esta era uma das canções que nunca podia faltar!
Os poemas não têm idade.
As palavras de Sophia – todas estas décadas depois, com uma queda de Ditadura e a chegada da Democracia pelo meio – continuam perfeitamente actuais e actuantes!
Claro que agora não há o risco de a Polícia Política desatar a prender cantantes e coro. O que já faz diferença grande…!
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen (in “Mar Novo”, Lisboa: Guimarães Editores, 1958; “Obra Poética II”, Lisboa: Editorial Caminho, 1991 – pág. 71)
Boa noite Descobrir Portugal ;! muito obrigadas por terem partilhado este belo video connosco ;! Muito bem cantado ,por este belo fadista ,e que tinha toda a razão desta letra que canta ;! parabéns ;! 🙂