Para algo completamente diferente, vamos falar de degraus. Escolha estranha, aparentemente. Mas não tanto quando percebemos a magnitude das Escadas da Barragem de Varosa. O Rio Varosa deu o mote para que se construísse uma barragem. E a barragem deu o mote para que se construísse uma escadaria. Está perto de Lamego e é uma desordem para os olhos.
O Rio Varosa, antes de se render à força magnética do Rio Douro, sofre uma súbita depressão junto a Sande. Tornou-se então sítio invejado por quem quer tirar eletricidade das correntes fluviais, e assim se construiu a Barragem de Varosa, em 1976.
Como a maioria das barragens, vista de montante, a planta é côncava, estando a escadaria do lado Oeste. Assim, a melhor forma de a olhar é pelo outro lado, de Leste. Para isso há uma pequena via, chamada Rua da Fontinha, que vem de Fundo de Vila e segue, conforme o possível, o curso do rio, em contra-corrente.
Chegados à ponta oriente desta engenharia de betão, vemos, do lado oposto, uma desordenada serpente a subir e a descer. Tal e qual como nos socalcos vinhateiros do Douro, que estão ali tão perto. Mas em vez de terra, aqui é de cimento e água.
Um maravilhoso desenrascanço arquitetónico. São escadas tão a pique que a diferença entre corrê-las ou fazer alpinismo não é grande. Um corta recorta num escarpado vale de granito bem emoldurado pelos vales lamecenses.
De frente, vemos do lado direito a brutalidade do desnível que a natureza oferece, e do lado esquerdo a versão humana disso, geometricamente calcada e de feitio quase utópico.
E uma vez aqui, aproveite para visitar Lamego, cidade com uma atmosfera única para quem procura por tradição, história e beleza. É sem dúvida, um dos tesouros do Douro.
Lamego, um tesouro do Douro
Situada a cerca de 12 km das margens do Douro, Lamego conheceu, no séc. XVIII, um tempo de grande prosperidade quando aqui se produzia um “vinho fino”, que esteve na origem do afamado vinho do Porto. Cidade muito antiga, já os Visigodos no séc. VII haviam elevado Lamecum a sede de bispado.
Depois, teve sorte igual a tantas outras localidades que mais tarde viriam a ser portuguesas: foi tomada pelos Mouros, reconquistada para os Cristãos, voltou à posse dos Mouros, até que em 1057, Fernando Magno de Castela, bisavô de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, a reconquistou definitivamente. Dos tempos medievais dão testemunho o castelo, no alto da cidade, a Sé e a pequena igreja de Santa Maria de Almacave.
A predominância da influência da Igreja ao longo de muitos séculos, que a extinção das Ordens Religiosas em 1834 viria a restringir, dotou Lamego de numerosos templos que revelam a influência clássica do tempo da sua construção nos sécs. XVI e XVII.
Histórias contadas nos azulejos que revestem as paredes, pintura sacra e belas decorações em talha de ouro acrescentadas na época barroca são motivos para entrar quando passar por elas.
Especial relevo para a Igreja do Convento de Santa Cruz, com vista para a cidade, e para o sumptuoso e monumental santuário barroco dedicado a Nossa Senhora dos Remédios, que no alto dos seus 600 metros responde ao apelo dos crentes aflitos, concedendo remédio para os seus males.
A cidade presta à Senhora os merecidos agradecimentos dedicando-lhe todos os anos (entre os dias 6 e 8 de Setembro) a grande Romaria de Nossa Senhora dos Remédios.
No extremo oposto e no mesmo enfiamento do escadório do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios ergue-se um belo palácio do séc. XVIII, de um elegante e sóbrio Barroco que foi o paço dos bispos de Lamego.
Sobre a porta principal estão esculpidas as armas do bispo D. Manuel Vasconcelos Pereira, a quem se devem as obras de reconstrução e ampliação do velho paço episcopal. Cerca de 1940 este espaço foi arranjado para guardar condignamente o riquíssimo recheio do Museu de Lamego, cuja visita é indispensável.
A localização de Lamego, tão perto das margens do rio Douro, proporciona passeios onde se podem admirar admiráveis panoramas dos extensos vales onde nasce o vinho do Porto.