Os Musgos têm papel fundamental na conservação do solo atingido por um incêndio florestal. Não só previnem a erosão dos solos como retêm a humidade e conservam a fertilidade da terra.
O seu crescimento deve, por isso, ser estimulado.
Investigação do Departamento de Ambiente e Ordenamento e do grupo de Planeamento e Gestão do Zonas Costeiras do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro quantificou, pela primeira vez em Portugal, o papel ecológico dos musgos na conservação do solo após incêndios florestais.
No âmbito do projeto RECARE, o estudo demonstrou que os musgos previnem a erosão em áreas ardidas, ajudando a consolidar a estrutura dos solos, a reter a humidade e a conservar a sua fertilidade.
Durante um ano, Os cientistas da monitorizaram uma encosta de uma plantação florestal ardida, na qual ocorreu uma colonização espontânea de musgos nas primeiras semanas após o incêndio florestal.
Foi quantificada a escorrência superficial induzida pela chuva, assim como a perda de sedimentos e de matéria orgânica, em parcelas de solo com diferentes frações de musgo na sua cobertura. Estes parâmetros foram correlacionados com a evolução do coberto vegetal ao longo do primeiro ano após incêndio. Mostraram que o desenvolvimento de uma cobertura anual média com 67 por cento de musgos permitiu reduzir a erosão anual em 65 por cento (de 1150 para 400 quilogramas de solo por hectare).
Solo, recurso não renovável
Recurso não renovável, “o solo é um compartimento ecológico estratégico que está nas prioridades da agenda de políticas europeias, sendo a sua conservação fortemente encorajada”. Diz o investigador Flávio Silva, autor do trabalho – a par com os investigadores do CESAM Diana Vieira e Jacob Keizer, e de Els van der Spek, da Universidade de Wageningen (Holanda).
Flávio Silva garante que “os musgos podem ser encarados como ‘engenheiros’ de ecossistema naturais que constituem o primeiro passo para a preservação da fertilidade dos solos, proporcionando todas as condições para o desenvolvimento da biodiversidade subsequente”.
“Os musgos são espécies pioneiras em solos recentemente ardidos, embora a sua proliferação dependa de condições ambientais específicas”, refere Flávio Silva. No entanto, o estudo sugere que estimular o desenvolvimento de musgos em áreas ardidas pode ser um importante instrumento de gestão de solos após incêndios florestais.
“Os musgos são espécies vegetais cosmopolitas e desenvolvem-se muito bem em solos pobres, e por isso a sua proliferação é fácil e rápida, requerendo apenas alguma humidade e luz solar baixa ou moderada”, explica o investigador que acrescenta: “Como são tolerantes a contextos de seca extrema, embora pareçam mortos quando sujeitos ao calor, basta alguma humidade para que se reabilitem, e os esporos também continuam viáveis”.
Trabalho destacado pela Comissão Europeia
À venda no mercado, podem ser encontrados esporos de várias espécies de musgos. A abordagem indicada para utilização de musgos para prevenção da erosão pós-incêndio passa por incluir esses esporos ou fragmentos triturados de musgo seco, a baixo custo adicional, nos lotes de misturas de sementes já habitualmente utilizados em medidas de estabilização de emergência pós-incêndio.
Normalmente esta técnica de sementeira, lembra Flávio Silva, “é aplicada por hidrossementeira [mistura de água com as sementes e outros componentes que promovem a estabilização do solo] ou por helicóptero como se tem feito nos Estados Unidos”.
No entanto, para diminuir os custos operacionais, e tal como deve acontecer com todas as medidas de estabilização de emergência pós-incêndio, os investigadores aconselham que se devem identificar previamente as áreas mais críticas sujeitas a erosão e fazer a aplicação da sementeira apenas nessas áreas. Como os musgos se desenvolvem rapidamente, eles retêm o solo e a humidade necessários para o desenvolvimento posterior de plantas vasculares.