É uma das mais bonitas aldeias do país. Um daqueles lugares que é paixão à primeira vista. Monsanto, a História da apelidada Aldeia mais Portuguesa de Portugal.
Em Lisboa, a 4 de fevereiro de 1939, aquando da entrega do “Galo de Prata”, representantes do Povo de Monsanto são recebidos pelo então Presidente da República, pelo Presidente do Conselho de Ministros e outras figuras do anterior anterior regime.
Em 1938, António Ferro e o “seu” Secretariado de Propaganda Nacional, decidiram atribuir a Monsanto o “Galo de Prata” que distinguia a “Aldeia Mais Portuguesa” de Portugal.
O ideário que presidiu à instituição daquele concurso era idêntico ao que tinha dado origem ao próprio Secretariado de Propaganda: “combater por todos os meios ao seu alcance a penetração no nosso país de quaisquer ideias perturbadoras e dissolventes da unidade e interesse nacional”.
Apesar da evidente carga ideológica do prémio, o epitáfio passou a figurar como baluarte de Monsanto.
Localizada no concelho de Idanha-a-Nova, Monsanto é uma imponente povoação esculpida no granito agreste de um promontório de pedra que domina toda a planície circundante.
A ótima localização geográfica do lugar, tornou aquele Monte Santo refúgio privilegiado para os mais primitivos povos.
Apesar do levantamento arqueológico da sua proto-história ser manifestamente insuficiente para poder traçar, com precisão, um quadro histórico da sua fundação, será legítimo afirmar que naquele aglomerado de pedra se encontram vestígios de uma ocupação anterior ao Neolítico.
A condição de fortaleza natural e os fragmentos de machados neolíticos encontrados no morro fazem supor que Monsanto tenha sido um castro pré-Romano.
A proximidade da antiga Egitânia (Idanha-a-Velha) e da estrada que ligava Mérida a Compostela, e os inúmeros vestígios da ocupação Romana (cerâmica, moedas, joalharia e inscrições funerárias), são sinais claros de que o Monte Santo terá acolhido romanos, naquilo que deveria ser um “oppidum”.
Aos Romanos sucederam-se os Godos e os Árabes que ali deixaram marcas indeléveis da sua passagem. Ainda hoje, muito do repositório etnográfico e antropológico desses povos sobrevive com as gentes da terra. Exemplo disso, é a festa de Santa Cruz no dia 3 de Maio. Romaria profundamente marcada por rituais pagãos, posteriormente cristianizados.
Subjacente à festa está a lenda dos sitiantes. Assim, e segundo a tradição, há muitos séculos atrás, Monsanto estaria cercada por um exército mouro ou castelhano. O cerco durou sete anos, durante os quais a aldeia foi esgotando os mantimentos até sobrar apenas um vitelo e um alqueire de trigo.
A tragédia parecia eminente. Foi então que uma anciã da aldeia arquitetou um plano genial. Depois de alimentar o vitelo com o último alqueire de trigo, foi arremessado pelo penhasco, caindo no meio do acampamento sitiante.
Os guerreiros vendo que os aldeões se davam ao luxo de atirar uma vaca bem nutrida para o “quintal”, julgaram que Monsanto estaria sob a proteção de uma estranha força divina. Isso era motivo mais que suficiente para embalarem a trouxa e se porem a milhas. Foi assim que a argúcia de uma “velhota” Monsantina derrotou as tropas sitiantes.
Este episódio terá ocorrido num dia 3 de Maio e é nesse dia que se comemora, todos os anos, a Festa de Santa Cruz ou do Castelo.
A proliferação de lendas e tradições mouras, onde se destaca o adufe (instrumento musical tradicional que apenas deve ser tocado pelas mulheres), sobrevivem como testemunho evidente de uma presença marcante dos povos árabes nesta região.
A construção da fortaleza de Monsanto, edifício profundamente ligado à história da povoação, perde-se na penumbra dos séculos. Alguns investigadores sustentam a tese da origem Suevo-Visigótica da fortaleza mas, em rigor, só a partir da fundação da Monarquia portuguesa se definem contornos cronológicos precisos.
Depois de ter concluído a Reconquista da região aos mouros, D. Afonso Henriques terá reconhecido o valor estratégico-militar da fortaleza. Por isso o Rei decidiu mandá-la reconstruir e repovoar Monsanto, atribuindo-lhe grandes regalias pelo foral de 1174, mais tarde confirmado por D. Sancho I (1190) e por D. Afonso II (1217).
Ainda antes de atribuir o primeiro foral, D. Afonso Henriques tinha doado a inexpugnável fortaleza a D. Gualdim Pais, Grão-Mestre da Ordem dos Templários.
A importância estratégica de Monsanto como bastião defensivo foi crescendo com o correr dos séculos. A fortaleza servia de posto de sentinela avançado de onde se permitiam avistar, com antecedência, incursões hostis no território português.
Em 1510, D. Manuel eleva a povoação a vila, honrando-a com o beneplácito de poder usar no seu escudo a esfera armilar.
A inexpugnabilidade da fortaleza é definitivamente comprovada com as duas últimas tentativas de ocupação por exércitos invasores. A primeira por D. Luís de Haro (ministro de Filipe IV) em 1658, e a segunda pelo Duque de Berwick em 1704. O falhanço desses audazes invasores terá dissuadido tentativas semelhantes. A partir daí a fortaleza foi perdendo a sua importância militar.
No princípio do século XIX, uma violenta explosão no paiol de pólvora do castelo provoca a destruição parcial da fortaleza e das muralhas.
Mais tarde, a última guarnição militar abandona a vila, colocando uma pedra lapidar numa heróica história de coragem e defesa intrépida da fronteira portuguesa. Era o fim de um glorioso período na vida de Monsanto.
A vila entretanto foi-se expandindo para lá das muralhas, formando a atual freguesia de S. Salvador, a meia encosta do cabeço de Monsanto.
MONSANTO, NAVE DE PEDRA
Durante séculos, Monsanto foi sendo minuciosamente esculpida num vasto cabeço rochoso. O génio humano temperado com a devida tenacidade foi dando forma a altares, sepulturas e casas. O que resultou num todo arquitectónico harmonioso e coerente a que não se pode ficar indiferente.
Se Zeus e o seu séquito de deuses gregos fossem despojados do Olimpo, decerto que não desdenhariam uma morada como Monsanto. Um verdadeiro Olimpo à moda da Beira.
As casas típicas de Monsanto “habitam” paredes meias com a rocha granítica que as protege. Vaguear pelas ruelas sinuosas, descobrir os recantos solarengos e debruçar o olhar pela majestosa paisagem, são motivos mais do que suficientes para o visitante se perder na descoberta da terra e do seu povo, envelhecido e sereno.
Para além do próprio conjunto urbano e do castelo, Monsanto contém ainda variados elementos patrimoniais merecedores de visita atenta.
Dentro das muralhas, as capelas de S. João e de Santa Maria. A primeira foi presumivelmente construída no século XII e ostenta ainda um portal românico, e voltado a norte, uma arcada ogival.
No entanto, a mais importante capela de Monsanto é a de S. Miguel. Edifício românico (ou o que resta dela), situa-se entre o castelo e a torre medieval de vigia. Erguida sobre um altar de culto a Marte, a capela constituí indício claro da existência de uma primitiva povoação. Apesar do estado latente de ruína ainda se podem apreciar a notável porta axial de arco de volta perfeita e os capitéis decorados.
Junto à porta da povoação encontra-se a capela de Santo António (séc. XVI), com portal de quatro arquivoltas ladeado por dois bastões ornamentados com a flor de lis.
Quanto a casas senhoriais, o Solar do Marquês da Graciosa é o mais importante, nele encontrando-se instalado o Posto de Turismo. Construído no século XVIII pertenceu à família Geraldes de Andrade, senhores de Medelim e alcaide-mor de Monsanto.
Por fim, o ex-libris de Monsanto. A imponente fortaleza medieval, com vários recintos, portas e escadarias. No interior das muralhas destacam-se a capela de Nossa Senhora do Castelo, a porta falsa e a Torre de Menagem. O castelo foi classificado monumento nacional em 1948.
Monsanto continua a ser uma das mais belas terras da Beira, celebrizada pelo escritor Fernando Namora, que aqui viveu e exerceu medicina durante alguns anos. “Retalhos da vida de um médico” ou “Nave de Pedra”, são algumas das obras profundamente marcadas pela experiência Monsantina do escritor.
Ao visitar Monsanto o turista será decerto assaltado pela mesma dúvida de Cardoso Marta, quando escrevia:
“Nunca se sabe em Monsanto
(que as águias roçam com a asa)
se a casa nasce da rocha
se a rocha nasce da casa”
MONUMENTOS DE MONSANTO
CASTELO
No cimo do monte se vêem os restos daquilo que foi uma fortaleza medieval imponente, com as suas muralhas e paredes grossíssimas, com os seus vários recintos e portas e escadarias, mandada reconstruir por D. Gualdim Pais, Mestre da Ordem dos Templários, facto que pressupõe a existência da mesma em época muito anterior.
Ao entrarmos nele pela “porta norte” ( na chamada “Casa da Guarda” onde existe curiosa inscrição, ainda não decifrada) depara-se-nos a “cidadela”, na qual permanece uma cisterna da fundação possivelmente templária, com três arcos e cerca de cinco metros de altura.
No Castelo, assinalem-se ainda a “porta falsa” e a torre de menagem (medievais) e a Igreja de Santa Maria do Castelo (templo de criação mais moderna).
IGREJA DE S. MIGUEL
Em ruínas, é um templo românico em pedra granítica situado no alto da povoação ao lado do Castelo. Possui bela porta axial de arco de volta perfeito, com quatro arquivoltas em cujos capitéis se notam motivos animais e vegetais.
A breve distância, e sobre um penedo, uma original torre sineira com dois arcos geminados de volta perfeita.
Em redor da Capela, encontram-se várias sepulturas escavadas na rocha.
TORRE DO PEÃO
Edificada sobre penedos e próxima do Castelo, foi um posto medieval de vigia e dela se conserva ainda parte das suas vigorosas paredes.
CAPELA DE S. JOÃO
Era pertença da Igreja de S. Miguel, esta Capela hoje em ruínas está situada por detrás do Castelo e apresenta somente um arco.
IGREJA DE S. SALVADOR
De fundação antiga, a sua fachada actual data dos séculos XVII-VIII, e destes séculos são também alguns belos altares em talha dourada e algumas imagens de interesse artístico. Recentemente restaurada tem no seu interior um pequeno mas precioso Museu de Arte Sacra.
CAPELA DO ESPÍRITO SANTO
Data do século XVI ou XVII é, no seu conjunto, de traça renascença. A esta Capela se endossa uma das portas da povoação com curiosa guarita ao lado.
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO
Templo manuelino, com detalhes apreciáveis: as quatro arquivoltas do portal; os dois “bastões” encimados por uma flor de lis (um de cada lado da porta); o óculo da fachada; a abóbada da capela-mor; o campanário.
TORRE DE LUCANO
Harmoniosa e sólida torre sineira de granito do século XV. No alto uma réplica do galo de prata que foi troféu em célebre concurso sobre a “Aldeia Mais Portuguesa”.
CAPELA DE S. PEDRO DE VIR-A-CORÇA
Situada nos arredores da povoação, toda em granito, objeto de algumas lendas da região, data possivelmente do século XII.
Sobre um penedo, em frente da Capela, ergue-se soberbo campanário de traça românica.
Fonte: Rádio Monsanto