É um duplo desafio. Subida íngreme, pela superfície que só tem areia e com paragem obrigatória, pelo menos uma vez. Quem está fora de forma tem de fazer mais paragens. A altura da duna é de 50 metros e é raro ver alguém que consegue chegar ao topo sem fazer, pelo menos, uma paragem e quase sempre com um ritmo pausado. Sem pressas. O outro desafio é descer sem ter a tentação de dar uma corrida.
Termina quase sempre com um mergulho na areia. Os mais astutos fazem a descida numa corrida diagonal. Com ou sem queda, a direito ou em diagonal, mais rápida ou mais lenta, as descidas em grupo são sempre sonoras. Jorge Matias, que quando era miúdo também fazia várias vezes a subida e agora vende gelados ao lado da duna, diz que a gritaria é maior com os mais novos.
A duna de Salir do Porto é a maior de Portugal e dizem que já foi a maior da Europa. Vista de longe, da baía de S. Martinho do Porto, temos uma noção mais concreta da sua extensão, de cerca de 200 metros e da envolvência com a foz do rio Tornada em que a duna se transforma em escarpas até ao oceano, até ao fecho da concha de S. Martinho do Porto.
Parte da duna é constituída por granito e a sua dimensão terá sido alcançada há cerca de 100 mil anos com os ventos a transportarem areias das lagoas que existiam entre Óbidos e a Nazaré.
Agora é um espaço agradável. A baía de S. Martinho do Porto funciona como um refúgio dos ventos e da ondulação. Dunas cercam a baía, com vegetação e aves e podemos percorrer toda a área pelas passadeiras que, tal como o Tornada, termina na praia fluvial junto à duna de Salir.
Faz-se a transição da água doce para salgada mas junto às escarpas, do lado da duna, há uma nascente de água doce e sulfurosa que dizem ter faculdades medicinais. Pode-se aceder quando a maré está vazia.
Ao lado estão umas ruínas, também junto à água. São de uma antiga alfândega e foram também estaleiros e oficinas de reparação naval. No tempo de D. Afonso V terão sido aqui construídas caravelas com madeiras do Pinhal de Leiria e que terão feito parte da epopeia dos descobrimentos.
A zona envolvente à duna da Salir está bem cuidada. A água do rio parece limpa, há estruturas de apoio, estacionamento e restauração. O miradouro não fica longe. Nesta zona há ainda grutas e pegadas de dinossauros.
Infelizmente, divulgar esta duna assim é contribuir para a sua dstruição. Também é estranho que não haja qualquer tipo de proteção desta duna, um verdadeiro monumento geológico, que merecia ser mais bem tratada por todos. Em especial porque desempenha uma função insubstituível e fundamental de proteção daquele litoral.
Tanta ignorância estão espelhados nesta foto e neste texto…