Rio Frio: há outro rio no Porto mas poucos sabem por onde ele anda
O Rio Frio ou Rio do Carregal nasce nas proximidades da atual Rua da Torrinha, passa pelo Carregal, por baixo do Hospital de Santo António, abastece o Chafariz das Virtudes, a Fonte da Colher, corria ao longo do areal da praia de Miragaia e desagua no Rio Douro por baixo da Alfândega Nova.
Hoje está totalmente encanado. O topónimo Carregal deriva da existência de Carregas, plantas próprias de terrenos pantanosos.
Agostinho Rebelo da Costa afirma que a fonte deu o nome à Porta das Virtudes da Muralha Fernandina. Sendo esta de cerca de 1376, humildemente nos parece ter sido o contrário, ou o local já anteriormente ser chamado deste nome.
“Toda esta encosta, por onde corre o Ribeiro Frio, era nos fins do séc. XIV ainda um terreno ermo e baldio, onde os judeus enterravam os seus mortos. A Alameda das Virtudes foi plantada por ordem do grande corregedor Francisco de Almada e Mendonça, entre as ruas dos Fogueteiros, do Calvário de Belomonte e Cordoaria Velha, no lugar onde antes existiu o Postigo e Torre das Virtudes, na Muralha Fernandina.
Fica-lhe junta a Fonte de nossa Senhora das Virtudes, mencionada em documento de 1580, e que se chamou também Fonte do Rio Frio…” (Toponímia Portuense de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)
“ No ano de 1619 mandou a Câmara Municipal erguer uma fonte – a fonte do Rio Frio, que mais tarde veio a chama-se Fonte das Virtudes – para o ádito da qual, mandou igualmente abrir uma rua que, por se apresentar sobremaneira declivosa, ficou a denominar-se Calçada… das Virtudes. Foi a fonte mais aparatosa e mais imponente que teve o Porto.
O seu frontispício elegantíssimo e de linda arquitetura, termina num meio círculo interrompido pelas armas reais, e entre esta pedra armorial e uma inscrição, tem dois castelos em alto-relevo, divididos por uma edícula, onde esteve a imagem da Virgem – pelo povo conhecida por Senhora das Virtudes – que representava, com os ditos castelos, as armas da cidade.
A inscrição, feita em mármore, a que Agostinho Rebelo da Costa se refere, hoje ilegível, tem do seguinte texto:
“aqui flui a fonte dita das Virtudes: quem tiver sede já pode beber sem receio. Estas águas nasciam de uns penedos cavernosos, e andavam por aqui perdidas em charcos imundos e sombrios. A Câmara Municipal as expôs como vedes, fazendo esta majestosa fábrica e, para lhe dar maior realce, abriu esta estrada e fez estes assentos no ano de 1619” O Tripeiro Série V, Ano XV.
Em plano baixo, veem-se ainda as duas carrancas de pedra que faziam de bicas, assim como lajeado polido que servia de fundo ao tanque.
Pinho Leal, no seu livro Portugal Antigo e Moderno, refere: “causa dó uma obra de tanto preço votada ao abandono, pois há muito que o público não faz uso da água desta fonte, preferindo, por maior comodidade, a do Chafariz das Taipas; e mesmo porque a das Virtudes era mal saborosa.
Lá se conservam ainda os dois tanques das lavadeiras, aumentando progressivamente o número destas com o desenvolvimento da cidade. Depois das Fontaínhas, são estes os lavadouros públicos de maior movimento que há hoje (1875, como dissemos) no Porto”.
Horácio Marçal, em 1959 ainda afirma que: ”Desde há compridos anos que o passeio das Virtudes, já não falando da área fundeira onde permanecem as ruínas da fonte – que essa, infelizmente encontra-se num estado calamitoso – deixou de ser frequentado pelas famílias gradas cá da nossa terra.
Está, pode dizer-se, num abandono verdadeiramente confrangedor”. Devido a este abandono a zona das Virtudes, em especial a calçada e a fonte, eram muito frequentados por gatunos, malfeitores e prostitutas.
Desde pelo menos o séc. XIV os portuenses aproveitavam os dias amenos para se deleitarem com as belas paisagens deste local. Dado o agrado dos habitantes daquela zona a Câmara mandou abrir, em 1682, um recinto espaçoso destinado a passeio público.
Em 1788, data do relato de Agostinho Rebelo da Costa, foi construído um paredão, mas tendo sido mal construído em poucos anos se desmoronou. Todavia, por ordem do Corregedor Francisco de Almada e Mendonça, foi reconstruído e é o que ainda hoje existe.
O Passeio das Virtudes foi, durante os séc. XVII e XVIII o local preferido pelas melhores famílias dos Porto para os seus passeios em dias de Sol. Mesmo nas noites mais amenas tinha movimento.
Horácio Marçal afirma, em O Tripeiro Série V, Ano XV que: “Em Novembro de 1853 o largo fronteiro (ao prédio onde mais tarde esteve o Clube Inglês) foi todo aplanado na sua superfície e resguardado, nos lados Norte e Poente, por um gradil de ferro que subsiste”.
Na mesma revista “O velho tripeiro F.N.M.J.” descreve esta foto da seguinte forma: “É do Passeio das Virtudes a fotografia que O Tripeiro apresenta no seu número de Maio(de 1948). Arborizado, como se vê na fotografia, tinha pelo Nascente um gradeamento de ferro, com três entradas, que à noite se encerravam.
Pelo Poente e Norte tinha o gradeamento, que conserva ainda hoje, e parece ter sido ali colocado afim de evitar sucessivos e trágicos acidentes, que a altura da sua muralha tornava propícios. Com o gradeamento acabou-se a cisma, e ainda bem…
Era este recinto pouco cuidado e limpo e, o que era pior, permitia-se que por ali estagiassem vadios e mendigos, catando-se e dormindo por aqueles bancos, o que era de um efeito bastante desagradável. Modernamente foi ajardinado, sofrendo várias modificações que tornaram o local um pouco mais aprazível, o que já não era sem tempo”.
Na mesma revista “O velho tripeiro F.N.M.J.” descreve esta foto da seguinte forma: “É do Passeio das Virtudes a fotografia que O Tripeiro apresenta no seu número de Maio(de 1948). Arborizado, como se vê na fotografia, tinha pelo Nascente um gradeamento de ferro, com três entradas, que à noite se encerravam.
Pelo Poente e Norte tinha o gradeamento, que conserva ainda hoje, e parece ter sido ali colocado afim de evitar sucessivos e trágicos acidentes, que a altura da sua muralha tornava propícios. Com o gradeamento acabou-se a cisma, e ainda bem…
Era este recinto pouco cuidado e limpo e, o que era pior, permitia-se que por ali estagiassem vadios e mendigos, catando-se e dormindo por aqueles bancos, o que era de um efeito bastante desagradável. Modernamente foi ajardinado, sofrendo várias modificações que tornaram o local um pouco mais aprazível, o que já não era sem tempo”.
Foto de O Tripeiro de 1948 – pode ver-se o novo ajardinamento deste passeio e já não existem as grades e portões de Nascente.
O gradeamento na atualidade
Na atualidade
Os quatro Cavaleiros do Apocalipse – 1965 – obra do escultor Gustavo Bastos.
O que sempre se manteve foi o esplêndido panorama sobre a cidade, o rio e o mar.
Fonte da Quinta das Virtudes – foto de F. Afonso – será esta a carranca da Fonte da Natividade e depois de Santa Teresa sobre a qual não encontrámos referência da sua localização atual?
Fonte do Bicho ou do Borges – Encontra-se na embocadura da Rua de S. Pedro de Miragaia – “No ano de 1821 foi cedida uma pena d’água ao capitão Borges, da Marinha Mercante, com a cláusula expressa na escritura de, à sua custa, mandar construir na frente da sua casa um chafariz para serventia do público.” In O Tripeiro
“A Fonte da Colher ainda funciona, embora não esteja no sítio primitivo. Está agora encaixada, se assim se pode dizer, na fachada de um prédio da Rua de Miragaia, perto das Escadas do Monte dos Judeus.
O sítio onde se localiza a fonte, uma espécie de logradouro, ao fundo das Escadas do Monte dos Judeus e das embocaduras da Rua dos Armazéns e da Viela da Companhia, chamou-se, em tempos idos, Escampado, Escampadouro, Largo dos Navios e Largo da Fonte da Colher.
A mais antiga referência que se conhece à Fonte da Colher está num documento do cartório do Cabido que se guarda no Arquivo Distrital do Porto e refere-se ao ano de 1491 e diz respeito a um “contrato condicional de censo de 300 reis para aniversários, imposto nas casas que estão em Miragaia sobre a Fonte da Colher… O nome de Colher anda ligado a um antigo tributo que os feirantes pagavam quando vinham vender os produtos da sua lavra à cidade.
Pagava-se esse imposto de “todo o pão, farinha, nozes, castanhas e legumes que de fora chegassem ao Porto para aí serem vendidos”. É verdade, também, que a sua água foi em tempos considerada “como a melhor em qualidade que teve a cidade”.
Pode-se avaliar da antiguidade desta fonte pela leitura da legenda, hoje quase imperceptível, que foi gravada na lápide da frontaria “Louvado seja o Santíssimo Sacramento e a Puríssima Conceição da Virgem Nossa Senhora, concebida sem pecado original. 1629. A água d’esta fonte é da Cydade…” In JN – Foi restaurada em 1940.
Fonte: Portoarc
_