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São Gonçalo de Amarante: o casamenteiro das “encalhadas”

Se o Santo António casa as novas, o São Gonçalo de Amarante casa as velhas. Descubra a história do santo casamenteiro de Amarante.

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São Gonçalo de Amarante
São Gonçalo de Amarante

Em Portugal, existe dois santos casamenteiros. Um com o seu trono em Lisboa que é Santo António, e outro situado a norte, S. Gonçalo de Amarante. Para não haver concorrência desleal entre os dois, Santo António encarrega-se das moças, enquanto S. Gonçalo trata das velhas. É esta a crença popular, mas não é só por esse motivo que a igreja de São Gonçalo é local de paragem obrigatória.

São Gonçalo de Amarante
São Gonçalo de Amarante

São Gonçalo não é santo. Para a Igreja Católica é considerado beato, Beato Gonçalo de Amarante. Mas para a população é santo e a devoção por ele não é menor, seja qual for a denominação utilizada. O seu túmulo, onde se acredita estar o seu corpo sepultado, pode ser visitado na capela-mor do mosteiro.

Amarante
Amarante

São Gonçalo é considerado o “casamenteiro das velhas”, o que parece não agradar às mais jovens que não querem esperar, e terá sido por isso que nasceu a famosa quadra popular de Amarante:

S. Gonçalo de Amarante,
Casamenteiro das velhas,
Porque não casas as novas?
Que mal te fizeram elas?

São Gonçalo divide, assim, com Santo António a tarefa de casamenteiro, sem conflitos, já que um casa as jovens e outro as mais velhas. Se Santo António não ouvir as preces das mais jovens e a idade avançar, será ao São Gonçalo que deverão recorrer.

Igreja de São Gonçalo
Igreja de São Gonçalo

Na igreja, ainda existe a estátua de São Gonçalo, do século XVI, em que existe a famosa corda de São Gonçalo. A corda rodeia a cintura da estátua e, segundo crença popular, “as encalhadas” deveriam puxar a corda três vezes, para pedir um casamento ao santo. No entanto, de forma a preservar a estátua, esta foi colocada num local alto com a recomendação de que não se puxe a corda, uma vez que poderia colocar em risco a imagem.

Amarante
Amarante

Gonçalo de Amarante nasceu no fim do século XII em Tagilde, na freguesia de São Salvador, no distrito de Braga, em Portugal. Sob a orientação do Arcebispo de Braga, Gonçalo se dedicou ao estudo da teologia e ao sacerdote. Depois de formado, passou 14 anos viajando pela Terra Santa, no Oriente Médio, e depois voltou para Portugal, onde se retirou como eremita na região de Amarante. São Gonçalo morreu em 10 de Janeiro de 1259 (ano incerto) na sua singela cabana de orações. O santo foi sepultado neste mesmo local, onde se construiu um grande mosteiro em homenagem à sua alma. Mesmo não sendo oficialmente canonizado pela Igreja Católica, São Gonçalo é tido como santo pelo povo e venerado como tal.

Oração de casamento para São Gonçalo:

“São Gonçalo do Amarante, Casamenteiro que sois, Primeiro casais a mim; As outras casais depois.

São Gonçalo ajudai-me, De joelhos lhe imploro, Fazei com que eu case logo, Com aquele que adoro.”

Amarante
Amarante

São Gonçalo de Amarante está enraizado na cultura da Princesa do Tâmega, com doces peculiares com formas fálicas, com quadras picantes que e com uma história rica de conquistas e actos heróicos importantes na construção da história de Portugal. Segundo a lenda popular, São Gonçalo é casamenteiro e é, por isso, que durante as festas são vendidos e apreciados “os doces fálicos” de S. Gonçalo, de todos os tamanhos e feitios.

Doces de São Gonçalo
Doces de São Gonçalo

Se fordes ao S. Gonçalo
Trazei-me um S. Gonçalinho.
Se não puderdes co’ele grande,
Trazei-me um pequenininho!

 

Também têm larga projecção no folclore, quadras de sentido erótico:

São Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis,
Já tenho teias de aranha,
Naquilo que vós sabeis.

São Gonçalo de Amarante
Feito de pau azevinho
Dai-me força no vergalho;
Como porco no focinho

São Gonçalo de Amarante
Que estás virado prá vila
Virai-vos pró outro lado
Que vos dá o sol na pila

 

S. Gonçalo, de maneira igualmente erotizante, aparece no folclore açoreano nestas quadras:

S. Gonçalo já é velho,
É velho, é maganão,
Quando passa pelas moças,
Arrefia, aperta a mão!

Róla, róla, Sam Gonçalo
Por esse mundo abaixo
Que eu perdi meu amor,
Eu vou-me a ver se o acho!

 

As quadras com piadas eróticas chegam mesmo a estender-se às religiosas que outrora viviam em Amarante:

As freiras de S. Gonçalo
Tocam e bailam no coro,
A culpa é da abadessa
Que não lhes faz ter miolo!

 

Com a emigração de amarantinos para o Brasil, a aculturação da devoção erotizada a S. Gonçalo aparece dispersa no nordeste do Brasil.

São Gonçalo não quer missa
São Gonçalo não quer esmola
São Gonçalo quer uma festa
De rebeca e de viola

Oh! Meu senhor São Gonçalo
Feito do pau da Cajá
Sapiranga dentro dos olhos
De quem veio pra namorar

Oh! Meu senhor São Gonçalo
Aqui tens duas donzelas
Uma já não é bem moça
E a outra já falam dela

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