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Lisboa, quase Rossio: A Kantina nas Chaminés do Palácio

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Anda a passear pela Baixa de Lisboa. Resolveu espreitar umas montras no Rossio. Ou sentar-se apenas a fruir ambiente, cor e bulíçio…
Que diria a um almoço num palácio, logo ali? No ponta da Praça, ao lado do Dona Maria, bem defronte da Ginginha… 

Já se chamou Palácio do Roccio e Palácio de São Domingos (a igreja é logo ali…). Mas, como foi o local que albergou a Reunião dos Conjurados que derrubaram o traidor Miguel de Vasconcelos e haviam de expulsar a Duquesa de Mântua e outros apaniguados dos Filipes de Castela, acabaria por receber o nome de Palácio da Independência.
Pois… foi aí que me desafiaram para um jantar!

Fiquei desconfiado: já conheci tantos usos para aquelas paredes e salas que nunca ousei suspeitar-lhe virtudes refeiçoeiras. Conquistou-me a ideia de um jantar nas Chaminés do Palácio, que conhecia de outras andanças. Altas e largas o suficiente para cada uma delas albergar na base uma saleta de comedorias.

Vim a descobrir depois que Chaminés do Palácio era a designação do espaço onde tinha mesa marcada: uma Kantina (mesmo assim, com K e tudo!).

Lisboa estava com um bonito princípio de noite, o Rossio bem habitado, com predominância para os estrangeiros. Como tinha sido previamente avisado, nessa noite não fui de transporte público, franqueei o portão e deixei o carro instalado no estacionamento defronte. Fui informado mais tarde que isto só é possível à noite e ao sábado. De qualquer forma, com autocarro logo ali, comboio e metropolitano a 50 metros, será sempre fácil lá chegar.

Já no pátio interior do Palácio, fazendo-me à escadaria para o 1º andar – o das chaminés – recordei a vez mais recente que ali penetrara. Tinha sido no lançamento de um livro do velho amigo, Antunes Ferreira, “Crónica das minhas teclas”. Agora a ida era bem mais prosaica… apenas um jantarinho!

Franqueada a porta, ultrapassada a 1ª sala (a de maior capacidade) lá busquei refúgio e instalação numa das chaminés. Enquanto me batia com uma tábua de enchidos e queijos do Alentejo, nas azeitonas não falo porque sou viciado, aproveitei para entender melhor aquele espaço, curioso que ficara com uma inscrição de parede que referia franchising social –  se o barbarismo já me é difícil de entender, a conjunção era um mistério. Foi-me explicado que a iniciativa era do INATEL – daí o conceito-marca de Kantina.

Da leitura da  Carta, a constatação de ser construída com pratos da cozinha portuguesa e assente na representação de todas as regiões gastronómicas nacionais.

Fiquei-me pelo zona Centro e pelas minhas memórias de Vila Nova de Poiares e Santa Comba. Alinhei na Chanfana e na arte de tornar excelsa uma coisa incomestível – a tal cabra velha e feia de que falam os livros. Só mesmo uma cozedura lenta em vinho tinto para conseguir tal milagre da restauração da carne – aqui não estou a fazer nenhum trocadilho com história, designação do palácio ou revolta contra os de Castela: Estava mesmo a usar o termo que os franceses criaram e banalizaram.

Para fazer companhia à carne e às batatas, talvez fosse mais acertado um néctar do Dão. Fiquei-me por um Doc de Vila Real que correspondeu ao que lhe foi pedido e desempenhou o seu papel com garbo e distinção.
Guloso como sou, não iria dispensar um remate de doces. Com prova de uma alentejana encharcada e de uma ribatejana tigelada.

Achei interessante – como agora se diz – o conceito do restaurante. E fiquei seduzido com aquela forma de apresentar o pratos na mesa: cantando uma estrofes de uma canção da região de onde provém o prato que vai ser servido. Diferente! Original!

Acabei curioso em relação à parte da ementa que não consegui experimentar. Convenhamos que é uma boa desculpa para lá voltar um dia destes… Agora que sei que posso contar com um espaço acolhedor mesmo ali no Rossio, não me vai escapar!

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