Por este mosteiro, passaram ao longo dos séculos, ilustres personalidades sobre as quais se escreveram inúmeras histórias, envoltas em mistérios, lendas e curiosidades.
O Mosteiro de Odivelas
O Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, vulgarmente designado de Mosteiro de Odivelas, foi fundado pelo Rei D. Dinis e a sua construção original, de estilo gótico, iniciada em 1295, foi projetada pelos mestres arquitetos Antão e Afonso Martins e Frei João Turriano (engenheiro-mor do reino).
É um monumento de arquitetura religiosa, que está classificado como de interesse nacional.
Ao longo dos tempos o Mosteiro foi sendo sucessivamente restaurado e alterado de acordo com os gostos de cada época começando assim, a partir do século XVI, a perder a sua original pureza de linhas.
No início do século XX, o Mosteiro acolhe o Instituto de Odivelas, sendo a igreja, a zona mais conservada, onde estão dois túmulos góticos, um deles do rei D. Dinis, com jacente e faciais decoradas com edículas trilobadas, nas quais se integram religiosos.
Este túmulo é um dos expoentes máximos da arte tumular medieval portuguesa, apesar de bastante afetado pelo terramoto e pelas invasões napoleónicas.
Os Escândalos do Mosteiro
Os principais escândalos do Mosteiro de Odivelas, nos quais intervieram freiras, madres, abadessas, reis, nobres e outros personagens são aqui referidos.
A lenda das “bruxas Salemas”
No século XVIII a bruxaria era uma verdadeira obsessão, particularmente durante o reinado de D. João V, havia um inexplicável terror das bruxas e dos seus feitiços, não só por parte do povo ignorante, como também do alto clero, da corte, do rei e até dos próprios médicos que reconheceram a existência da bruxaria atribuindo-lhe uma base científica de modo a criar um rigoroso antídoto terapêutico.
D. João V, homem muito mulherengo, galanteador, apaixonado e extremamente guloso, era frequentador assíduo do Mosteiro de Odivelas, para habitualmente estar com as suas monásticas preferidas, que o disputavam com toda a “doçura”.
De entre todas elas, era madre Paula a sua eleita para “mordiscar ladrilhos de marmelada”, até que certo dia num desses quadradinhos de doce devorados pelos amantes, havia sido preparado um feitiço pelas Mulatas Salemas, bruxas de Setúbal, com a conivência do padre Bartolomeu de Gusmão, juntamente com duas freiras de Odivelas.
Quiseram assim enfeitiçar D. João V e a madre Paula com o objetivo de substituir a madre no coração e no leito do rei, por uma determinada jovem e bonita freira de Odivelas.
Em 1876, por causa das bruxas Salemas, o Rei viu-se obrigado a reunir o conselho de Estado durante a madrugada, mandando formar os regimentos nas ruas.
Com este feitiço elaborado com sangue, peitos de perdiz e pedaços de marmelada, foram então acusadas as bruxas Salemas, muito embora, ao que parece a bruxaria não resultou tendo D. João V e a madre Paula mantido o seu romance.
A oração da bruxa e das freiras
Consta que quando D. João V se deslocava no seu coche a caminho do mosteiro para levar às nobres freiras os processos dos penitenciados, leu a oração da célebre bruxa “Dona Paula” que já correndo pelas bocas da cidade, as freiras também repetiam aplicada à pessoa do rei, a qual se transcreve:
«Esta mão cheia de sal eu deito por el-rei meu senhor, para que me venha buscar, me venha falar, e logo me venha amar, venha e não se detenha, para barrabás, para caifás, e estes sinais me hão-de dar cães a ladrar, bestas a passar, gatos a saltar…»
Os meninos de Palhavã
Como já é sabido, talvez a mais famosa residente deste mosteiro tenha sido a Madre Paula, amante do rei D. João V. Reinava D. João V e reinava no mosteiro “a liberdade de costumes e a moral do prazer “, trazendo a este convento muito má fama, devido aos constantes escândalos das freiras com os seus amantes fidalgos e com o rei, que é recordado por alguns historiadores de “freirático” dizendo-se que “D. João V era tão religioso que todas as suas amantes eram freiras.”.
Como visitante assíduo que era do convento, entretia-se de amores com algumas freiras das quais teve filhos, particularmente com a madre Paula, a cujo filho de ambos, D. José, um dos “meninos de Palhavã”, D. João V construiu um palacete em Lisboa, hoje denominado Palácio da Azambuja, onde está atualmente instalada a Embaixada de Espanhola.
Nota: Meninos de Palhavã foram denominados os filhos bastardos (rapazes) de D. João V (D. António, D. Gaspar e D. José) devidamente reconhecidos por este em documento que fixou em 1742, mas apenas publicado depois da sua morte.
A lista negra
Não foi apenas a madre Paula a fazer do mosteiro motivo de escândalo e alvo de anedotas, outras madres e abadessas houve que também deram o contributo possível.
Na biblioteca Nacional conservam-se manuscritos nos quais existe uma lista de 20 freiras que durante o reinado de D. João V foram condenadas por “delitos amorosos”.
Esta mesma lista serviu de inspiração a Camilo Castelo Branco para escrever o romance “A Caveira da Mártir”.
A freira prometida rainha
Também de D. Afonso VI “o rei seco” é sabido dos seus esforços para conquistar tanto as mulheres mais expostas como as mais recatadas em noitadas que se prolongavam até de manhã e tal como os seus antecessores, não perdoava o sagrado mosteiro de Odivelas em suas investidas.
Aqui duas freiras disputavam os régios favores, com destaque para D. Ana de Moura, a quem D. Afonso VI prometera fazer rainha, ficando apenas a promessa, afirmando-se o mosteiro uma vez mais como um ninho de alcova.
Aqui no pátio deste mosteiro, talvez para impressionar alguma das freiras, quis D. Afonso VI tourear, acabando por cair magoado a sangrar e segundo a tradição, D. Ana de Moura sangrou-se também não por necessidade, mas sim para “fazer finaeza a Sua Majestade”.
Um raro exemplo de boa conduta
A abadessa D. Feliciana de Milão (1642-1705), sendo uma das poucas que entrou para a clausura por vocação, sempre se opôs vivamente aos hábitos das suas iguais, condenando mesmo o romance de D. Ana Moura com D. Afonso VI. A moral desses tempos era tal que a abadessa D. Feliciana de Milão, dizia às damas da rainha que não se levantaram à sua passagem, como era devido: “Não se levanta de graça quem se deita por dinheiro”. Transcreve-se um dos registos de missivas de D. Feliciana de Milão a D. Afonso VI sobre o seu relacionamento com D. Ana Moura:
“Me Monarca, vosso amor, e vosso emleyo amorozotanto tem de primorosoquanto de Rey, e Senhor; mas inda assi cauza dor,e naõ com pouca razaõ,uer que esta uossa affeiçaõmotivo tem que a desdoura, poes adoraes huã Mourasendo uos hum Rey chistaõ. Freira podereis achardiscreta que possa terfee para uos merecer discriçaõ para agradar; isto naõ he enuejaressa mais que ditosa Anna; que ainda que Soberanatam endiozada está, Anna felice será, mas nunca Feliciana.”
Dizem as crónicas que esta abadessa “Não foi mulher banal, nem mesmo uma freira vulgar”, não obstante isto ainda assim foi mais a má fama do mosteiro que perdurou pelos tempos.
Amante exclusiva
A vida desregrada D. João V escandalizava a corte e até os mais humildes súbditos, contudo jamais alguém se atrevia a repreender as atitudes do Rei.
D. João V mantinha várias amantes que ia substituindo conforme a sua disposição, em particular desde que se tornou frequentador assíduo do mosteiro de Odivelas.
Quando aqui conheceu a jovem madre logo se apaixonou loucamente por ela.
Apesar de jovem, a freira Paula cedo ganhou fama, pois antes de D. Pedro V, já esta se havia amantizado com o Conde de Vimioso, D. Francisco de Portugal e Castro, que recentemente havia sido agraciado com o título de Marquês de Valença.
A cegueira de D. João V por D. Paula era tamanha, que rapidamente resolveu a situação chamando o fidalgo e dizendo-lhe: “Deixa a Paula que eu te darei duas freiras à tua escolha”.
Assim e apesar de trinta anos mais nova que o monarca, Paula passou a ser amante deste em regime de exclusividade.
Os reais aposentos de Madre Paula
Os aposentos de Madre Paula eram verdadeiramente dignos de uma rainha, onde imperava o luxo, conforto e extrema riqueza, contrastando com um dos princípios da Ordem de Cister que vigorava neste mosteiro e que estipulava o despojamento.
Diziam que a Casa da Madre Paula, servida por nove criadas, era “a casa mais rica do mundo” e por isso lhe chamavam “um palácio real”.
Construída sobre a Sala do Capítulo, era composta por dois pisos com um mirante ao cimo, daí ser conhecida também com “Torre da Madre Paula”. Tinha pelo menos quinze divisões, luxuosamente mobiladas e decoradas com ouro, prata, cristais de Veneza e da Boémia, tapeçarias de Smyrna e móveis de chorão.
Contudo, existia também “um modesto cubículo” que era designado por “cela da Madre Paula” que não era mais do que uma fachada para mostrar aos frequentes visitantes da Abadia de Alcobaça, que fingiam ignorar o luxo extremo em que a Madre Paula sumptuosamente vivia.
Os “Outeiros”
Durante o século XVIII, no mosteiro de Odivelas eram também célebres os “Outeiros” ou “Trovas de Outeiro” partilhados por poetas e fidalgos, sendo que estes concursos de poesia realizados no pátio do mosteiro eram também populares em algumas ocasiões festivas, atraindo ali inúmeros fidalgos.
Nestes outeiros os poetas improvisavam versos com base nos motes que as freiras lhes atiravam das janelas, chegando muitas vezes a ser escandalosos.
Entre os frequentadores destes outeiros destacavam-se o Visconde Almeida Garrett, fundador do Teatro Nacional e também o poeta António Sanches de Noronha, que vivia ali bem próximo, na Póvoa de Santo Adrião, tomando como musa inspiradora a freira D. Maria de Pina Rebelo Freira, apelidada por D. João V de “Bela Marcia”.
O último destes “Outeiros” aconteceu no ano de 1852, bastante tempo antes do mosteiro encerrar.
Fonte: mosteirodeodivelas.org
Gostei de ter conhecido esta fonte de informação.
Gostei muito em conhecer a história do Convento de Odivelas.