O Alentejo foi sempre exemplo de região onde a população soube encontrar, ao longo de séculos, respostas originais e adequadas para as suas necessidades de subsistência.
Àqueles que, sem saber do que falavam, diziam que a cozinha alentejana era pobre e quase só à base do pão, respondiam os mais atentos que se tratava de uma cozinha de imaginação, perfeitamente adequada aos ecossistemas e aproveitando tudo o que, de comestível, os alentejanos conseguiam ter acesso.
A criatividade das mulheres para fazer frente às necessidades de alimento das famílias deu origem às mais interessantes combinações da gastronomia portuguesa.
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Em tempos de fome, deitavam mão a tudo tivesse sabor e valor alimentar.
As ervas eram fundamentais para tornar agradáveis e apetecíveis coisas que pareceriam incomestíveis. E acabavam por assumir o papel principal em alguma refeições.
Quem nunca comeu uma açorda de cardos, de beldroegas ou de urtigas não sabe o que tem andado a perder.
Exagero de carne ou de gorduras era risco que os alentejanos não corriam. O porco da casa comandava hábitos, geridos pelos ritmos da matança e da cura das carnes, sob o mando do Deus Inverno: Tinha de durar um ano inteiro até que chegassem os frios da próxima época. Carne e enchidos eram consumidos com a parcimónia necessária para bastarem a toda a família. Nada se perdia nas formas tradicionais de conserva onde a manteiga amarela, aliás banha com colorau, desempenhava um papel essencial. E, no final, também ela seria consumida com as estilhas de carne que iam ficando…
Vaca era coisa que quase não se pensava. Até porque no Alentejo não havia vacas… subsistia um bicho muito semelhante que puxava carros, lavrava e arava: o boi. E ninguém iria comer o seu instrumento de trabalho! A não ser quando a velhice estivesse para o derrotar…
De carnes, o Alentejo de todas as restrições, além do porquinho de sua criação ficava-se pelo coelho e pelas aves – que não eram de capoeira porque cresciam nos terreiros à volta das casas! Às vezes protegidos pelas cercas de caniços.
Essa dos nacos de porco preto (que mania de pintar os porcos!) foi coisa inventada pelos modernaços das cidades para crismar um bicho que sempre se chamou porco ou porco alentejano.
E depois esquecem que Alentejo também é peixe ou outros bichinhos de mar. Que tanto podem ser de rede ou de pexeiro em riste à cata dos polvos, dos ouriços das lapas…
Pronto, lá vêm as memorias dos dias de maré rasa, quando ao Lago Margavél ainda era permitido que conversasse com o mar em São Torpes.
Ou a recordação dos sabores das sopas de peixe em casa da minha avó…
E quem nunca lhe provou os de rio. no Guadiana? Que tanto podiam ser carpas de Juromenha ou… tudo o mais que caía na rede no Pomarão.
Vem este arrazoado todo a propósito do tal Estudo que diz que o Alentejo está dirimido, deprimido e obeso.
Impõe-se a pergunta: Que porcarias andará o Alentejo a comer? Pizzas? Sucedâneos das multinacionais norte-americanos de subprodutos de encher o bandulho? Batatas fritas de pacote?
Quando tal acontece com as crianças… a culpa é mesmo dos pais! Que deviam estar atentos e perceber se os seus filhos comem na Cantina da Escola ou andam a gastar o dinheiro dos almoços naquelas mixórdias que enxameiam as cercanias de todos os estabelecimentos de ensino.
Andam a dormir na forma e os resultados estão à vista! Não acordem não…