Escorrem estas linhas num banho de sol, numa varanda que abre horizontes para a Serra do Açor. O azul do céu é velado aqui ou ali por laivos de nuvens brancas. Logo além, as macieiras, as figueiras, as laranjeiras, os prados…
Mais desvanecidas as marcas do incêndio grande de há quatro anos. O verde da vegetação foi pintando o negro de que a terra vestira. Ilusória melhoria, com as mimosas a invadirem terrenos onde se albergavam medronheiros, carvalhos, castanheiros, pinheiros… que o incêndio levou naqueles dias de receio e susto para os que ainda habitam esta margem do Alva a que a freguesia foi buscar nome: Penalva de Alva, Oliveira do Hospital.
Agora, um Inverno de seco e uma Primavera que quase não trouxe água faz ressurgir todos os medos e receios.
Mas a força do renascer da natureza, depois de tempos de desolação, vem carregada de cheiros e sons que desafiam para aventuras de passeio e contemplação.
Apetece centrar vistas na encosta da Serra. E os olhos trepam faldas e horizontes até às torres eólicas de que bordaram os cumes.
Cá de baixo, quase se conseguem percorrer num relance veredas e atalhos que se conhecem bem.
Passar para a outra margem do rio, subir à Aldeia das Dez, estacar de novo no miradouro e reencontrar as distâncias na paisagem.
Sou dos que acreditam que os caminhos servem para levar a algum lado…
E que, percorrê-los, é uma forma de quase ir chegando!
A manhã parece ter sido inventada para passear. Com cautelas, com calmas e vagares.
Não tarda nada, vão aparecer umas bátegas de água e o sol esfumar-se por detrás de umas nuvens.
Mas o vento acabará por as levar para outras paragens. Depois de deixarem alguma água (pouca!) que tão precisa é…
Quase como nas nossas vidas. Sempre a caminhar e à procura.
Sem olhar a aguaceiros, quase ignorando turbulências ou alterações de temperatura.
Na convicção de que a existência, na sua profundidade e complexidade, está muito para além do imediatamente visível e perceptível.
E por isso vale a pena!
• Fotos: Conceição Coelho