Não caímos na esparrela de alinhar na visão simplista de que os resultados são meramente determinados pelo jogo de forças a nível nacional – uma espécie de teste governativo e cópia redutora de eleições para a Assembleia da República.
Não vamos nessa!
Quem vota neste acto eleitoral autárquico alfacinha são apenas – como é bom de ver – os cidadãos recenseados em Lisboa. E uma boa parte dos trunfos ou dos louros de gestão do executivo municipal, amplamente difundidos pela máquina de divulgação camarária – e pelas privadas agências de comunicação adstritas – tem pouco a ver com anseios de melhor vida dos que habitam a cidade e nela constroem a sua vida.
Tudo passou a ser feito em nome do turismo. Todas as parangonas vão para números, prémios e ratings que medem o modo como os de fora se relacionam com a cidade, como dela usufruem e como olham os seus habitantes. Ficamos deslumbrados com a maré de elogios e distinções.
Mas restaríamos muito mais agradados se nos distinguissem por coisas tão simples como a qualidade de vida dos lisboetas, os seus horizontes de progresso e futuro, a excelência das suas escolas e hospitais, o usufruto da catadupa de investimento público que parece ter desabado sobre a cidade, etc.
Um investimento de tão desigual distribuição dentro dos limites urbanos que – dando de barato a demagogia e o populismo da proposta do BE – nos obriga a reflectir: Alguma coisa terá de ser feita para que a habitação de luxo, que ocupou vastas áreas afastando os que nelas moravam, suporte o peso de justas e adequadas contrapartidas pelos caudais de dinheiros públicos aí gastos.
Não vão querer que seja o resto da população a pagar?
Ou querem?
Todos nós gostaríamos de uma deslumbrante vista de Tejo ou de uma visão grandiosa do burgo nas nossas janelas, mas não podemos chegar lá…!
Por isso, a bem da justiça social… que pague quem usufrui. Se não souberem o que são habitações de luxo ou zonas nobres da cidade, perguntem aos gigantes da imobiliária: Sabem tudo!
É assim que eles vendem…
Se é verdade que a indústria do turismo é decisiva para Lisboa, não é menos verdade que uma boa parcela dos projectos públicos anunciados para a capital se fica pelas necessidades de alindamento e recuperação dos tais elementos de atracção dos milhões que visitam a cidade e de todos os outros que… irão vir a seguir.
É também por isso que estamos curiosos para perceber como se vão comportar os eleitores de Lisboa nas próximas autárquicas. Muito mais do que saber quem serão os cabeças de cartaz ou os galos de capoeira, sobra a vontade de perceber como é estas questões vão ser abordadas e discutidas.
Porque, se o turismo é decisiva para balança de pagamentos, défices, volume de investimento, cifras de desemprego, etc. etc. etc., alguns dos efeitos de uma actividade desabrida estão à vista de todos, tanto nas ruas da cidade como nas vielas dos seus bairros históricos.
E são motivo de queixas e protestos todos os dias repetidos. Até já há estrangeiros a manifestar-se contra a confusão de Tuc tucs e outras carripanas para transporte de turistas.
Uma praga em Lisboa, escreve-se numa interessante crónica de viagem cuja leitura recomendamos aos responsáveis por estas coisas.
Sobretudo – repete-se – não esqueçam que no acto eleitoral vão apenas votar os recenseados em Lisboa. Que, à custa de serem arredados da cidade e empurrados para a periferia, são cada vez menos.
E não terão tantas razões de agrado como as que transparecem das acções de celebração e júbilo dos responsáveis pela gestão do espaço público.
Ainda há uns rempos assistíamos ao tom comicieiro de uma presidente de Junta nas festas populares de uma freguesia de Lisboa. Inenarrável!
poderia ser decalcado (por exemplo) para o Porto.